Entrevista de Tristão Fernandes, concedida em 2009/2010

O que mudou na advocacia brasileira nestes últimos 50 anos?

TRISTÃO FERNANDES: O Poder Judiciário se fechou, há um distanciamento maior em relação ao advogado. Durante o regime militar, eles respeitavam mais o advogado do que hoje, quando parecem ter receio de nos encarar frente a frente. Até recentemente, invadiam escritórios de advogados, aquelas operações da Polícia Federal… melhorou, graças ao Gilmar (Ministro Gilmar Mendes) no STF. O Supremo está fazendo com que a Constituição seja cumprida. Se não fosse o Supremo, nós estaríamos hoje num estado policial, e ainda há sintomas disso, graves, como a impossibilidade de contato com os clientes por telefone e o fato de se começar a condenar publicamente os acusados antes mesmo da abertura do processo. Orgulho-me de ter um filho no Judiciário, desembargador no Rio de janeiro, e que contribui diariamente para o fortalecimento da Justiça, recebendo a todos que o procuram.

A ordem dos Advogados do Brasil, a OAB, poderia mudar isso, não?

TRISTÃO FERNANDES: A OAB é uma autarquia federal para defender a profissão do advogado e ficar vigilante quanto a seus direitos, mas não está sendo utilizada de forma correta na defesa dos advogados. Entrei para a política da OAB, mas ainda não conseguimos que ela exerça a plenitude de suas funções. As reuniões no Conselho não podem ser apenas para julgar processos contra advogados, quando individualmente os advogados são desrespeitados pelo Poder Judiciário. Temos que estar lá, participando, atuantes. Minha ambição política, hoje, é ver esses jovens com dedicação, sapiência e honestidade tomando a OAB no estado e no país, para que ela seja a representante dos advogados e aja como no regime militar.

O que teria feito de diferente nestes 50 anos, se pudesse voltar atrás?

TRISTÃO FERNANDES: Faria tudo igual. Eu me sinto realizado, orgulhoso da trajetória, com uma satisfação imensa de servir clientes, de ser procurado e de atuar na defesa fundamental dos direitos do cidadão. Mas se o regime militar não tivesse me tolhido a permanência no Paraná, teria ido além, teria feito mestrado, doutorado, como fizeram meus filhos.

Sua vida profissional é de sucesso evidente. e a pessoal?

TRISTÃO FERNANDES: Eu me considero de fato um privilegiado de muita sorte. Felicidade é um complexo de fatores: vida pessoal, familiar, coletiva… sou felicíssimo, ainda mais com a minha neta de nove anos, que é a mais nova, a Isabela. É uma satisfação bacana, tenho o retrato dela quando abro o celular, e escrevo cartas para ela, que agora mora em São Paulo, e coloco no correio, para que ela leia e pense com calma e guarde de recordação. E tenho cinco netos homens. O mais velho é Promotor de Justiça concursado, o João, um menino bom, de 28 anos. Outro, o Pedro, é advogado, e Paulo é engenheiro eletrônico. Estes dois, são filhos do desembargador. Toda terça-feira, eles vêm tomar café da manhã em minha casa, uma forma de conviver sem formalismos. A outra neta estuda Medicina, está com 20 anos, e Arthur faz Direito. Mas devo tudo a minha mulher, Zulka, com quem farei 60 anos de casado em 2010. Me salvei do atentado em Mato Grosso graças à aliança, que desviou o projétil. Quer maior símbolo de amor? Ela é minha sócia na vida, na felicidade, construiu esta família, me ajudou a construir o escritório e a educar nossos filhos.

O senhor, que comanda o escritório no rio, acompanha o que acontece no de são Paulo?

TRISTÃO FERNANDES: Sim! Em São Paulo, o movimento profissional é permanente, e fico muito contente de ver a equipe, cada vez mais experiente, abrindo novos caminhos e sendo constantemente elogiada por clientes, juízes e outras autoridades. É uma luta bonita, linda mesmo, satisfatória pessoal e profissionalmente. Cada vitória jurídica é um êxtase. Hoje, o escritório, nas duas cidades, tem obtido vitórias fabulosas, o que confirma a ascensão profissional de todos da equipe, pessoas admiráveis, sábios na luta, dedica dos. Temos conseguido provar ao Judiciário o desrespeito policial à Constituição e às pessoas.

O que diria a quem está entrando hoje na faculdade de direito?

TRISTÃO FERNANDES: Eu diria: meu amigo, estude mais o direito e principalmente o processo civil e penal! E também que esta é a melhor profissão social, a advocacia.

Como é ter o filho mais novo no escritório?

TRISTÃO FERNANDES: No meu sentimento, o nascimento do filho mais novo, 18 anos depois do terceiro, foi um prêmio à convivência diária entre mim e a Zulka. Eu completo 50 anos de advocacia com um filho no escritório, e que o modernizou e atualizou, que assumiu suas bandeiras, garantindo a continuidade de vitórias. Há dias em que nos comunicamos vinte vezes!